SUMÁRIO

4.7. Língua Inglesa

PERSPECTIVA DO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA

 

A formulação do REFERENCIAL CURRICULAR DO PARANÁ: princípios, direitos e orientações de Língua Inglesa (LI) fundamenta-se no documento normativo da Base Nacional Comum Curricular – BNCC (2017), nas disposições presentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais (2013), nas Diretrizes Curriculares Orientadoras Estaduais de Língua Estrangeira Moderna (2008), e nos documentos orientadores dos demais sistemas de educação paranaense. Ainda, considera a Lei n.º 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que determina alterações do texto das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB n.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996, Artigo 26, parágrafo 5º, tornando obrigatório o ensino da Língua Inglesa a partir do sexto ano, no currículo do Ensino Fundamental – Anos Finais.

Na dimensão histórica do ensino de línguas estrangeiras, a língua inglesa tem uma trajetória de mais de duzentos anos, marcada por determinantes políticas, históricas, econômicas e culturais, entre outras, que influenciaram sua permanência no currículo brasileiro. Embora sua posição de prestígio tenha oscilado entre ascensão e declínio no decorrer das mudanças curriculares, para atender às expectativas e exigências sociais, a Língua Inglesa sempre esteve presente como importante recurso para o acesso a bens culturais e científicos produzidos em outros contextos sociais e espaços geográficos. Com o desenvolvimento das tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) e o processo de internacionalização presentes nas políticas linguísticas vigentes, o papel da Língua Inglesa está se modificando no contexto escolar e acadêmico e contribuindo para o surgimento de novas maneiras de conhecer e produzir conhecimento. Além disso, a presença de estrangeiros é real em muitas escolas do Brasil e no contexto paranaense, nos diversos níveis e etapas de ensino.

Diante deste cenário, torna-se necessário refletir sobre a função social da Língua Inglesa, que assume na contemporaneidade, por fatores econômicos, políticos, culturais e ideológicos, o papel de língua franca. Sob esse viés, há que se repensar o ensino da Língua Inglesa, desvinculando-o do padrão ideal de falante (americano ou britânico), pois “o status de inglês como língua franca implica em considerar a importância da cultura no ensino-aprendizagem da língua, buscando romper com aspectos relativos à “correção”, “precisão” e “proficiência” linguística” (BRASIL, 2017, p. 240). Por conseguinte, a Língua Inglesa passa a atuar como uma das línguas das relações interculturais, onde falantes com distintos backgrounds linguístico-culturais (ou falantes de diferentes línguas maternas) a utilizam como recurso mediador das interações sociais.

É preciso atentar para o fato de que a interculturalidade se faz presente em muitas comunidades paranaenses, e outras estão próximas de vivenciar esta realidade. Sendo assim, o contato com a diversidade cultural/linguística e a influência das novas tecnologias da informação trazem novos desafios, modificando a maneira de ler o mundo e o modo de comunicação entre as pessoas.

Nesse sentido, as perspectivas de ensino-aprendizagem da Língua Inglesa encontram-se em sintonia com as demandas prementes em escala mundial, alavancadas pelo advento de novas linguagens e formas de interação multimodalizadas e híbridas. Consequentemente, os textos/gêneros discursivos produzidos com multiplicidade de linguagens e recursos semióticos (os textos multimodais, por exemplo) estão cada vez mais presentes na vida social, tornando evidente a necessidade de desenvolver novas formas de compreensão e produção destes conhecimentos, ampliando a visão do (s) letramento (s), ou melhor, dos multiletramentos. Na BNCC, a visão dos multiletramentos é “concebida também nas práticas sociais do mundo digital” (BRASIL, 2017, p. 240) em que os estudantes passam a interagir com uma grande variedade de textos, seja na condição de leitores ou produtores, construindo seus próprios sentidos.

Além do mais, a Língua Inglesa estabelece, quando possível, diálogos interdisciplinares com outros componentes (Geografia, Arte, História, Sociologia, Filosofia, entre outros), por meio de conceitos e conhecimentos historicamente construídos, os quais contribuem para uma formação integral do estudante, objetivando a transformação da prática social.

Ante o exposto, é mister compreender a abrangência da Língua Inglesa nos diferentes contextos discursivos (literário/artístico, científico, cotidiano, publicitário, midiático, entre outros) e, portanto, perceber em diversos momentos as relações com as Competências Gerais elencadas no texto da BNCC, entendidas neste documento como Direitos Gerais de Aprendizagem, sobretudo, a que se refere aos “conhecimentos das linguagens verbal (oral e escrita) e/ou verbo-visual (como Libras), corporal, multimodal, artística, matemática, tecnológica e digital para expressar-se e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e, com eles, produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo” (BRASIL, 2017, p. 18).  Tais conhecimentos contribuem para o desenvolvimento do pensar crítico sobre diferentes maneiras de perceber, ler e analisar o mundo.

Esse entendimento faz aflorar uma educação linguística que permite a inserção dos estudantes em diferentes espaços sociais e a interação destes com as múltiplas vozes, compreendendo o multiculturalismo, contrastando a sua cultura com outras, afirmando assim, sua identidade cultural. Para tal, há de se considerar na aprendizagem da Língua Inglesa (ou de qualquer outra língua), o conhecimento linguístico articulado ao conhecimento discursivo, tomando “a língua em uso, sempre híbrida, polifônica e multimodal que leva ao estudo de suas características específicas” (BRASIL, 2017, p. 243), a partir das práticas sociais de uso da linguagem concretizadas nos Eixos Organizadores: interação discursiva, intencionalidade discursiva, contexto discursivo, entre outros. Assume-se, portanto, uma perspectiva discursiva da linguagem.

Isso implica no redimensionando de seu papel formativo com vistas ao ensino-aprendizagem que coaduna práticas sociais e considera os diferentes contextos discursivos e, que se distancia do formato de ensino para se atingir fins comunicativos limitando as possibilidades de sua aprendizagem.

Nessa perspectiva de ensino sabe-se que os conhecimentos culturais são essenciais para o entendimento de crenças, comportamentos, valores e atitudes e, assim, propiciam a consciência e o respeito ao que seja diferente em relação à própria cultura com diferentes modos de ver a realidade.

É importante destacar ainda que, pela sua significância, a Língua Inglesa poderá também ser ofertada na rede municipal de educação, de acordo com a autonomia de cada sistema de ensino, envolvendo o estudante dos anos iniciais em contextos histórico-culturais diversos e diferentes do qual ele pertence.

 

 

O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA NO ENSINO FUNDAMENTAL

 

A abordagem dos gêneros discursivos nas aulas de Língua Inglesa – LI já é uma realidade em muitas escolas do Paraná, e seu funcionamento na sociedade proporciona aos estudantes o contato com distintas formas de linguagem: verbal (oralidade e escrita), não verbal (visual, gestual, corporal, entre outros), híbrida ou multimodal (integra as duas anteriores, presentes em filmes, quadrinhos, placas, entre outros), e a participação destes estudantes nas práticas sociais de diferentes esferas das atividades humanas.

Ressalta-se que este Referencial Curricular está ancorado nos pressupostos teóricos e metodológicos já apresentados na BNCC para a Língua Inglesa, os quais dialogam em diversos aspectos com os documentos e orientações curriculares produzidos no Paraná na última década, principalmente, ao considerar o texto como unidade central no ensino da língua, em que se manifestam elementos linguísticos e extralinguísticos, efetivados em um contexto discursivo.

Dessa forma, os gêneros discursivos têm importância crucial na organização da comunicação humana, e, assim, se constituem historicamente.  O conhecimento do contexto enunciativo de um gênero discursivo resultará no conhecimento de sua finalidade, das condições de produção e circulação no meio social em que surge, e ainda na compreensão do discurso como prática social, fruto das interações sociais entre sujeitos situados, social, histórica e culturalmente.

Destarte, o processo de ensino-aprendizagem de Língua Inglesa deve estar alicerçado no estudo dos textos/gêneros discursivos verbais e não verbais e no desenvolvimento das práticas de linguagem da leitura, da escrita e da oralidade, que efetivam o discurso. É importante que o professor considere neste estudo, o conteúdo temático, a estrutura composicional do texto, o estilo de linguagem (escolha dos recursos linguísticos), as relações de sentido que permeiam o texto, o uso de recursos não verbais, os níveis de formalidade, a coesão e a coerência do texto, que definirão o gênero discursivo (tiras, quadrinhos, charges, bilhetes, biografias, filmes, entre outros).

Nesse sentido, orienta-se que os gêneros discursivos sejam o ponto de partida das aulas de Língua Inglesa considerando todos os Eixos Organizadores: Oralidade, Leitura, Escrita, Conhecimentos Linguísticos e Dimensão Intercultural, respeitando o grau de complexidade adequado a cada ano. Destaca-se a importância de levar ao conhecimento dos estudantes a diversidade de gêneros discursivos, incluindo os mais recentes, tais como: fake news, memes, honest trailers, fanfic, walkthroughs (detonados ou dicas), entre outros. Caberá ao professor a seleção dos gêneros discursivos das diferentes esferas sociais de circulação, podendo também, utilizar-se das sugestões elencadas no campo Objetos de conhecimento, propostas no Organizador Curricular.

Na abordagem de leitura discursiva, a constituição dos sentidos e significados dos textos deve ir além das suas marcas linguísticas, objetivando o desenvolvimento de uma prática analítica e crítica. Salienta-se ainda, que os Objetivos de Aprendizagem estão inter-relacionados, tanto na compreensão quanto na produção escrita, então, as práticas da escrita acontecem ao mesmo tempo em que se dá a escolha do uso dos elementos gramaticais, do léxico, do conteúdo temático, da finalidade, da coesão e coerência, entre outros elementos.

Por outro lado, a prática da oralidade, marcada como eixo organizador, ainda oferece alguns desafios e exige o planejamento de estratégias de aprendizagem com ênfase diferenciada, a fim de minimizar possíveis dificuldades dos estudantes, motivando-os a expressarem-se em Língua Inglesa, mesmo com limitações. Em relação à autonomia das produções orais, o professor deve considerar as características pessoais dos estudantes, tais como: desenvoltura, timidez, dicção, grau de dificuldade de aprendizagem da língua, dentre outros fatores, tendo em mente que a prática da oralidade está essencialmente articulada aos demais eixos organizadores.

 

 

ORGANIZAÇÃO DO COMPONENTE LÍNGUA INGLESA

 

Os Direitos Específicos de Aprendizagem (Competências Específicas) do componente, em articulação com os Direitos Gerais de Aprendizagem (Competências Gerais) da BNCC e os Direitos da Área de Linguagens, devem garantir aos estudantes o conjunto de conhecimentos essenciais para o Ensino Fundamental – Anos Finais. Considerando as características socioculturais e respeitando a importância dos documentos norteadores já existentes no estado do Paraná, optou-se por algumas alterações e ajustes quando do diálogo entre a BNCC e o Referencial Curricular do Paraná.

A BNCC traz a seguinte organização: Eixos Organizadores, que se subdividem em Unidades Temáticas, Objetos de Conhecimento e Objetivos de Aprendizagem. Por considerar que as Unidades Temáticas apresentadas na BNCC são compostas por conteúdos, processos ou procedimentos referentes ao desenvolvimento linguístico, estas foram renomeadas como Práticas de Linguagem, pois estão vinculadas à leitura, à oralidade e à escrita. Na sequência, os Conhecimentos Linguísticos tratarão do estudo do léxico e da gramática e a Interculturalidade abordará os aspectos culturais e interculturais.

Assim, no processo de ensino-aprendizagem da Língua Inglesa, o/a Professor/a deve considerar os 5 Eixos Organizadores. Isso se efetivará por meio da abordagem teórico-metodológica pela qual se definiram os eixos organizadores, as unidades temáticas e os objetos de conhecimento apresentados na BNCC. E, de forma mais detalhada, os objetivos de aprendizagem que, ao longo dos anos avançarão no grau de complexidade linguístico dos gêneros discursivos abordados.

Destaca-se que os Objetos de Conhecimento são os conhecimentos de grande amplitude e devem ser desenvolvidos por meio das práticas de linguagem articuladas com os conhecimentos linguísticos e interculturais para que, dessa forma, os objetivos de aprendizagem sejam atingidos pelos estudantes. Alguns Objetos de Conhecimento e Objetivos de Aprendizagem foram complementados para facilitar sua compreensibilidade e outros foram construídos visando ampliar a ação docente em sala de aula.

Todos os Eixos Organizadores devem articular-se entre si e receber ênfases diferenciadas, sendo assim, consolidados nas práticas de usos da língua de forma contextualizada, nas diferentes situações de sua aprendizagem. Nesse sentido, a prática pedagógica do ensino da Língua Inglesa para o Ensino Fundamental – Anos Finais deve preconizar os seguintes Direitos Específicos de Aprendizagem (Competências Específicas).

  1. Identificar o lugar de si e o do outro em um mundo plurilíngue e multicultural, refletindo, criticamente, sobre como a aprendizagem da Língua Inglesa contribui para a inserção dos sujeitos no mundo globalizado, inclusive no que concerne ao mundo do trabalho.
  2. Comunicar-se na Língua Inglesa, por meio do uso variado de linguagens em mídias impressas ou digitais, reconhecendo-a como ferramenta de acesso ao conhecimento, de ampliação das perspectivas e de possibilidades para a compreensão dos valores e interesses de outras culturas e para o exercício do protagonismo social.
  3. Identificar similaridades e diferenças entre a Língua Inglesa e a língua materna/outras línguas, articulando-as a aspectos sociais, culturais e identitários, em uma relação intrínseca entre língua, cultura e identidade.
  4. Elaborar repertórios linguístico-discursivos da Língua Inglesa,usados em diferentes países e por grupos sociais distintos dentro de um mesmo país, de modo a reconhecer a diversidade linguística como direito e valorizar os usos heterogêneos, híbridos e multimodais emergentes nas sociedades contemporâneas.
  5. Utilizar novas tecnologias, com novas linguagens e modos de interação, para pesquisar, selecionar, compartilhar, posicionar-se e produzir sentidos em práticas de letramento na Língua Inglesa, de forma ética, crítica e responsável.
  6. Conhecer diferentes patrimônios culturais, materiais e imateriais, difundidos na Língua Inglesa, com vistas ao exercício da fruição e da ampliação de perspectivas no contato com diferentes manifestações artístico-culturais.

Portanto, com o objetivo de contribuir para a organização e reelaboração dos documentos orientadores das redes de ensino do estado do Paraná, apresenta-se o Organizador Curricular, considerando um conjunto progressivo de conhecimentos essenciais a todos os estudantes, para cada ano do Ensino Fundamental – Anos Finais, disponibilizados conforme segue.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. 562 p.

______. Lei n.º 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Presidência da República. Casa Civil - Subchefia para Assuntos Jurídicos, 2017.

______. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, SEB, 2017.

PARANÁ. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras para o ensino da rede estadual da Educação Básica de Língua Estrangeira Moderna. Curitiba: SEED, DEB, 2008.

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