3.3. Concepções norteadoreas do trabalho pedagógico na Educação Infantil
A compreensão da relevância da função pedagógica na Educação Infantil é recente. Durante grande parte da história da infância, a prática de atender as crianças era despretensiosa, ou seja, bastava um local onde a criança pudesse estar sob os olhares de um adulto.
À medida que a Educação Infantil passa a ser objeto de pesquisas e avança na constituição de um arcabouço teórico, é respaldada pela obrigatoriedade de formação específica de professor para efetivar uma prática intencionalmente pedagógica.
A BNCC reafirma a intencionalidade educativa que direciona o trabalho pedagógico na Educação Infantil, ou seja, a reflexão que embasa a intenção do professor e a sua concretização na prática planejada. Essa intencionalidade se pauta nos pressupostos próprios desta etapa e, principalmente, na ciência de que a criança é partícipe da sua educação. Como cita a BNCC:
Essa intencionalidade consiste na organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas (BRASIL, 2017, p. 36).
Um dos princípios postos na legislação para a Educação Infantil é o cuidar e o educar, e o brincar em um processo de interação. Essa relação que é indissociável, exige atenção aos momentos que permeiam o cotidiano da Educação Infantil, ricos de vivências e experiências. O professor precisa, nesse contexto, “refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças” (BRASIL, 2017, p. 36).
As transformações que ocorrem na vida das crianças durante a Educação Infantil são intensas e rápidas. Ao planejar, o professor precisa dedicar especial atenção à sua mediação nas aprendizagens e desenvolvimento, observando que as transformações podem ocorrer de diferentes formas e tempos.
A criança conhece e expressa seu “mundo” por meio das interações e brincadeiras. Ela organiza seu pensamento e se comunica, o que aponta a importância da atenção a essa expressão própria da infância, pois, ao mesmo tempo em que o professor é um observador atento e conhece sua criança acompanhando e analisando o processo de desenvolvimento, também pode direcionar sua ação por meio de novas brincadeiras, que oportunizem situações de desenvolvimento e aprendizagem (OLIVEIRA, 2010).
Há muitas situações que merecem atenção do professor no planejamento de suas ações na educação infantil, como: a organização dos espaços e do tempo, a igualdade nas relações e o respeito às diferenças, a relação e parceria com as famílias e o direito da criança à infância, entre outras.
Nesse sentido, o Referencial Curricular do Paraná: princípios, direitos e orientações traz uma breve discussão sobre a concepção de criança, os eixos norteadores da Educação Infantil (as Interações e a Brincadeira) e os Campos de Experiências, como orientação para a organização dos currículos nessa etapa da Educação Básica, considerando nesta organização a educação inclusiva, assim como a flexibilização do currículo para as adaptações que atentem às especificidades de cada educando.
CONCEPÇÃO DE CRIANÇA
A definição do conceito de criança só é possível quando permeada pela reflexão acerca da concepção de infância e sua construção histórica. Assim para compreender a criança enquanto sujeito histórico, é fundamental pensá-la inserida em práticas sociais de infância, histórica e socialmente determinada.
Ao aprofundar esse entendimento, percebe-se diferenças de concepções. Em resumo, na Idade Média a criança era vista como mini adulto, compartilhando suas vestimentas e até mesmo suas tarefas. Mais tarde, nos séculos XVI e XVII a infância passa a ser apenas uma etapa de vida que diferencia a criança do adulto. Com o advento das reformas religiosas, a infância passa a ganhar maior atenção, e algumas questões, como a afetividade e sua importância no desenvolvimento infantil, passam a ser consideradas (ARIÈS, 1978).
Na mesma linha de pensamento, no século XX, ainda com bases religiosas, caberia a família, a Igreja e a sociedade a formação moral da criança, direcionando-a no caminho do bem (OLIVEIRA, 2010). Mais tarde, com todo o processo de abertura política e redemocratização vivido no Brasil, a infância passa ser vista com mais atenção, o que significa que a criança passa ser considerada um ser histórico e cultural, pertencente a sociedade e portadora de direitos e deveres (OLIVEIRA, 2002).
De acordo com Leontiev apud Paraná, (2015, p. 31), "... o homem é um ser de natureza social, que tudo o que tem de humano nele provém da sua vida em sociedade, no seio da cultura criada pela humanidade”. A criança se apropria das qualidades humanas na medida em que se relaciona com os outros e com a cultura. Portanto, é fundamental a relação da criança com os outros, com a natureza e com a cultura acumulada historicamente pela humanidade.
Assim, é necessário compreender a criança enquanto sujeito ativo que se desenvolve continuamente, à medida em que estabelece relações sociais nas quais há a apropriação de conhecimentos pertencentes ao patrimônio cultural. Dentro deste contexto, o papel da Educação se constitui fundamental, uma vez que neste espaço há o ensino intencional de saberes e conhecimentos que promovem o desenvolvimento humano.
Segundo Kramer (2007) esta concepção ganha força com a elaboração de alguns documentos que acentuam os direitos da criança cidadã, como Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8069/1990, a nova LDBEN, Lei nº 9394/96, o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil e mais tarde com as DCNEIs que em seu artigo 4º indica a necessidade de entender-se a criança como:
sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2009, p. 1).
Portanto, ainda com muitos direitos a serem alcançados, não se pode negar avanços qualitativos na Educação Infantil, onde a concepção de criança passa ser entendida como ser integral, vista em todos os seus aspectos. Isso significa que a educação ofertada à criança, desde bebê, necessita ser intencional, com espaços e recursos pedagógicos que promovam o desenvolvimento humano por meio de aprendizagens significativas.
A Educação Infantil possui especificidades e a criança que frequenta essa etapa da Educação Básica, deve ser respeitada a partir de suas manifestações de aprendizagem, que revelam o processo de desenvolvimento, o qual, em cada período, tem marcos referenciais comuns, a depender das intervenções educativas. Por isso que é importante assegurar práticas mediadoras entre os conhecimentos sistematizados e os saberes cotidianos, considerando que as aprendizagens são dependentes da qualidade das mediações oportunizadas pela comunicação, pela ação com os objetos e pelas brincadeiras.
AS INTERAÇÕES E A BRINCADEIRA NA PROPOSTA CURRICULAR
Barbosa (2010) apresenta três funções da Educação Infantil presente nas DCNEIs (BRASIL, 2009): social, política e pedagógica. Estas funções se articulam nas instituições que, ao receber uma criança, devem levar em consideração suas necessidades biológicas e cognitivas para a promoção da autonomia e desenvolvimento de valores que contribuirão nas relações com os outros, desta forma assumindo uma função social. Ao objetivar a busca por igualdade de direitos e exercício de cidadania, revela-se a função política e por fim, ao conceber estes espaços enquanto promotores de aprendizagens e possuidores de intencionalidade para a ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes áreas, revela-se a função pedagógica (BARBOSA, 2010).
De acordo com o Parecer nº 20 (BRASIL, 2009), que fundamenta as DCNEIs, para cumprir estas funções é necessário que o Estado complemente as ações das famílias assumindo sua responsabilidade na promoção de igualdade, na qual o espaço escolar deve ser considerado promotor de convivência e ampliação de saberes e conhecimentos que permitirão a construção de identidades coletivas e consequente desenvolvimento humano.
Desta forma, a Educação Infantil possui dois eixos para a organização intencional das práticas pedagógicas: as interações e a brincadeira. Estes eixos estruturantes são apresentados no artigo 9º das DCNEIs (BRASIL, 2009), no qual propõe-se uma organização curricular que garanta a aprendizagem por meio de experiências.
Por sua vez, a BNCC apresenta cinco campos de experiências que se aproximam de forma articulada às definições do referido artigo. Desta forma, optou-se neste documento por apresentar os incisos correspondentes a cada campo de experiência, para que possibilite a relação da DCNEIs com os objetivos de aprendizagens definidos pela BNCC e ainda, os objetivos de aprendizagem construídos aqui no Estado do Paraná.
CAMPO DE EXPERIÊNCIA |
Art. 9.º: As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, garantindo experiências que: |
O EU, O OUTRO E O NÓS |
I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; [...] |
CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS |
I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; |
TRAÇOS, SONS CORES E FORMAS |
II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical; [...] |
ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO |
[...] II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical; [...] |
ESPAÇOS TEMPOS QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES |
IV - recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais; |
É possível verificar a repetição de alguns incisos nos campos de experiências, o que revela a presença necessária da intercomplementaridade para esta etapa da Educação Básica.
O currículo da Educação Infantil deve estar presente nos projetos político-pedagógicos das instituições, enquanto resultado de uma construção coletiva. Este deve servir para organizar as práticas pedagógicas que acontecem na instituição e que têm o objetivo geral de promover o desenvolvimento humano.
De acordo com o artigo 3º das DCNEIs, o currículo é concebido como:
Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2009, p. 1).
Estas práticas devem acontecer por meio de experiências e relações sociais estabelecidas nas instituições, devendo existir a intencionalidade pedagógica que considere o cuidar e educar como indissociáveis. Além disso, deve-se considerar os conhecimentos trazidos pelas crianças enquanto ponto de partida, no qual o professor deve promover por meio do trabalho pedagógico organizado, a aprendizagem dos saberes e conhecimentos.
Neste documento é possível identificar saberes e conhecimentos relativos aos objetivos de aprendizagem, proporcionando sistematização e organização do trabalho docente e possibilitando interligações entre esses. Por exemplo: ao objetivar a experiência de desenvolver a contagem oral, o professor pode promover a experiência de pular corda ao som de uma música que conte de um a dez, mas este deve ter consciência de que outras habilidades, como o equilíbrio, estão sendo desenvolvidas neste momento.
O ensino de conteúdos, representados neste documento por saberes e conhecimentos, constituem-se um compromisso político com a aprendizagem e com o desenvolvimento das crianças de todas as idades e em qualquer condição social, física, motora, sensorial, cognitiva, de saúde física ou mental.
CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS
Considerar as interações e a brincadeira enquanto ato das próprias crianças significa pensar em possibilidades de experienciar e isso compreende o fazer, o agir, a participação e a vivência. Os campos de experiências permitem uma organização curricular intercomplementar que considera as especificidades relativas a cada faixa etária, o que significa pensar em diferentes modos de perceber e agir sobre o mundo. Cabe aos professores promover o encontro de crianças de diferentes idades e criar condições para que a brincadeira aconteça.
Há uma relação entre os objetivos de cada campo e as áreas do saber organizadas em disciplinas no Ensino Fundamental, uma vez que essas expressam a classificação dos conhecimentos acumulados pela humanidade. Porém, é importante evitar a antecipação da etapa seguinte à Educação Infantil, “disciplinarizando” os campos.
Neste sentido, ao se efetivar o trabalho com os campos de experiências se apresentam diferentes encaminhamentos metodológicos, os quais se sustentam em abordagens teóricas sobre como as crianças aprendem e se desenvolvem, bem como sobre a intencionalidade educativa, o que repercute no papel do professor, no planejamento, na organização da prática pedagógica, na avaliação e na organização do tempo, dos espaços e dos materiais. São definições a serem feitas no currículo propriamente dito, uma vez que estão articuladas a outras concepções, as quais são escolhas fundamentadas teoricamente. Mesmo sendo opções das redes e/ou das instituições, os encaminhamentos metodológicos devem assegurar o conhecimento, cujo acesso é direito da criança.
Os Campos de Experiências “constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural” (BRASIL, 2017, p. 38).
A categoria experiência está associada tanto aos saberes e conhecimentos que as crianças trazem ao chegarem na Educação Infantil, como aqueles que estão no currículo escolar e que, garante, plenamente, o acesso das crianças às ricas e diversas experiências e que lhes permite a apropriação das objetivações humanas, proporcionando aprendizagens e, por conseguinte, a elevação do seu desenvolvimento a patamares superiores, de forma omnilateral. Está, assim, associada diretamente ao fazer pedagógico planejado a partir dos currículos estabelecidos em cada rede ou instituição.
Os campos de experiências não seguem uma ordem de prioridade, são complementares e interligados e devem estar equilibrados no planejamento dos professores, propiciando os direitos de aprendizagem e desenvolvimento aos bebês, às crianças bem pequenas e às crianças pequenas. Conforme a BNCC, são cinco os campos de experiências:
O eu, o outro e o nós
É na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar, na coletividade), constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando- se como seres individuais e sociais. Ao mesmo tempo que participam de relações sociais e de cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado, de reciprocidade e de interdependência com o meio. Por sua vez, na Educação Infantil, é preciso criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas. Nessas experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos (BRASIL, 2017, p. 38).
Considerando este campo, percebe-se que organizar um currículo neste enfoque significa reconhecer a importância da formação a partir do social, criando condições que permitam às crianças o início da formação da identidade, com percepção do mundo à sua volta, do qual são partícipes e sujeitos de direito. Na Educação Infantil é importante oportunizar que as crianças entrem em contato com diferentes grupos sociais e culturais, conhecendo outros modos de vida, costumes e manifestações culturais com o intuito de ampliarem seus conhecimentos.
As imensas transformações pelas quais as crianças passam na infância, especialmente na etapa da Educação Infantil, estão imersas no mundo material e cultural a que tem acesso. Assim, os objetivos traçados a partir do campo “O eu, o outro e o nós” demonstram a necessidade de organização, pelo professor, de momentos de educação e de ensino planejados intencionalmente.
Outro campo que a BNCC apresenta é o de:
Corpo, gestos e movimentos
Com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de seu corpo e, com seus gestos e movimentos, identificam suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode ser um risco à sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.) (BRASIL, 2017, p. 39).
O corpo é, para a criança, um meio de expressão e comunicação que a auxilia em sua relação com o mundo. As experiências e vivências com o corpo são progressivas e emancipatórias, na medida em que são possíveis a percepção e o domínio do funcionamento do próprio corpo, reconhecendo seus limites e possibilidades. As diferentes linguagens são manifestadas por meio do corpo, onde a criança revela sua compreensão de mundo, sentimentos, necessidades.
O campo “Traços, sons, cores e formas” está relacionado ao ambiente que as crianças vão, paulatinamente, descobrindo e atribuindo significados. São experiências e vivências diversas com materiais naturais ou produzidos, em ambientes com estímulos visuais e sonoros que promovam expressividade e criatividade. Conforme a BNCC, este campo busca possibilitar à criança:
Traços, sons, cores e formas
Conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências (BRASIL, 2017, p. 39).
O Campo “Escuta, fala, pensamento e imaginação” está relacionado à linguagem que se efetiva nas diferentes práticas sociais. É por meio das múltiplas linguagens, tomadas de forma contextualizada, que a criança amplia suas possibilidades de se comunicar e conhecer o mundo. Esse campo envolve experiências e vivências com a produção e a compreensão das diversas linguagens em diferentes contextos e suportes, considerando a relação entre estas e o pensamento.
Assim, promove aprendizagens que permitem à criança agir, sentir, pensar e atribuir significados sobre diferentes aspectos no seu entorno. Por meio de experiências significativas, a criança pode criar uma imagem positiva de si, manifestar preferências, comunicar-se por meio de diferentes linguagens e ampliar suas relações sociais. Na BNCC o campo se apresenta como:
Escuta, fala, pensamento e imaginação
Desde o nascimento, as crianças participam de situações comunicativas cotidianas com as pessoas com as quais interagem. As primeiras formas de interação do bebê são os movimentos do seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o choro e outros recursos vocais, que ganham sentido com a interpretação do outro. Progressivamente, as crianças vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e demais recursos de expressão e de compreensão, apropriando-se da língua materna – que se torna, pouco a pouco, seu veículo privilegiado de interação. Na Educação Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e pertencente a um grupo social.
Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita: ao ouvir e acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que circulam no contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de língua escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos gêneros, suportes e portadores. Na Educação Infantil, a imersão na cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além disso, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros. Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da escrita como sistema de representação da língua (BRASIL, 2017, p. 40).
O campo que trata das noções de tempo, espaço, quantidades, relações, transformações e outras ligadas à construção do raciocínio lógico é, na BNCC, o campo que compreende:
Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações
As crianças vivem inseridas em espaços e tempos de diferentes dimensões, em um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde muito pequenas, elas procuram se situar em diversos espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o mundo sociocultural (as relações de parentesco e sociais entre as pessoas que conhece; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a diversidade entre elas etc.). Além disso, nessas experiências e em muitas outras, as crianças também se deparam, frequentemente, com conhecimentos matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões, medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias, reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reconhecimento de numerais cardinais e ordinais etc.) que igualmente aguçam a curiosidade. Portanto, a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a instituição escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu em seu cotidiano. (BRASIL, 2017, p. 40).
Aspectos do dia a dia como o meio ambiente, animais, plantas, materiais produzidos e naturais, fenômenos físicos e químicos, organização social são elementos possíveis para a promoção de experiências e vivências importantes nesse campo.
Assim, os campos de experiências concretizam uma identidade para a Educação Infantil com foco nos direitos de aprendizagens e desenvolvimento expressos em objetivos para as crianças, os quais só serão atingidos com a organização intencional da prática pedagógica.